Feito nós – Fil Felix

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Feito nós

Feito o choro de cigarra
Cantei todas minhas dores
Traguei minhas angústias
Estridulei sentimentos vãos

Que do xote fosforescente
Feito de intensos lumes
Ficou a mágoa cintilante
Amargura que mal me quer

Uma dança contemporânea
De passos desajeitados
Feito ária a Zéfiro
No calor das primaveras

Ao meu peito se abre o mar
Ouço o estalo das ondas
Minha morte em céu aberto
Feito zabumba que bem me quer

Fil Felix

 

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  1. Vera lage disse:

    Uma catarse poética em grande estilo. Parabéns Fil Felix!

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  2. iolandinhapinheiro disse:

    No seu poema o espetáculo começa com o título: Feito Nós, por conta da semântica da palavra nós (substantivo ou pronome) que casam perfeitamente com a ambiência do poema – Os nós que temos entre nós. Casou muito bem com este texto sem rima, mas pleno de ritmo. Adorei alguns trabalhos com palavras, dando novas possibilidades a velhos verbetes (Ouço o estalo das ondas); (Feito ária a Zéfiro
    No calor das primaveras) – uma ópera ao vento para fazer o calor diminuir – genial!; (Ficou a mágoa cintilante) – e mágoa tem cor??!! Que coisa bárbara!

    Não sei se vc me compreendeu, às vezes eu mesma me acho desencaixada nas ideias, mas eu só quero que vc saiba, que a sua criatividade me impressionou. Adorei. Foi como se provasse sabores desconhecidos.

    Abração, Fil.

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    1. Fil Felix disse:

      Oi, Iolandinha! Acho que todos os sentimentos tem cor, aliás, podem ser de todas as cores. Tentar imaginar que cor está sua semana, que cor gostaria que estivesse, que cor anda sua vida, pode falar muito sobre você. É um ótimo exercício de análise!

      (Mas no poema é porque gosto do psicodélico, mesmo haha). Valeu!

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      1. iolandinhapinheiro disse:

        Querido Fil, quando eu era criança a minha cor preferida era o azul, e eu achava uma injustiça do chocolate ser marrom. Na minha cabeça tinha que ser azul porque era muito gostoso. Coisa de criança que não gosta de fazer o dever de casa, rs. Beijos.

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  3. Muito engenhoso esse teu poema principalmente no que se refere ao uso das palavras e seus diversos significados, quase um jogo dos contrários às vezes a começar pelo título, um verdadeiro achado. Bela a arquitetura leve, fluente e sonora. Parabéns! Abraços.

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  4. Rui E L Tavares disse:

    Gostei muito. Um jogo hábil com as palavras, envolvente e que atrai à leitura. Principalmente a última estrofe, onde aborda com maestria o tema proposto. Parabéns, abraço.

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  5. Anorkinda Neide disse:

    Sim, Fil, isto é fazer poesia…
    a inspiração vem chegando, vem chegando e explode num final apoteótico!
    usaste ótimas palavras, bonitas e bem dosadas. fizeste um belo trabalho, viu?
    Juro que fico parada em alguns versos só ‘assistindo’ a cena.
    Muito bom!
    Bjão

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  6. Feito nós — tudo entrelaçado, amarrado como se fosse uma só peça. Maravilha.

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  7. Priscila Pereira disse:

    Olá Fil,
    Por acaso esse poema se trata de um suicídio?
    Fiquei com essa impressão… Está tão lindo tanto foneticamente como textualmente que deu uma leveza e um brilho ao tema sombrio. Parabéns! Espetacular poema!

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    1. Fil Felix disse:

      Oi, Priscila! Fico feliz que tenha gostado do poema e também do conto lá do EC. Consegui um combo, uhuu! E é sim, de certo modo, um suicídio que resulta da amargura. Um cair no mar, ou em nosso próprio mar.

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  8. Elicio Santos del Nacimiento John Grafia disse:

    O título do poema já possui uma semântica bem atraente. A amargura de malmequer termina num bem me quer feito zabumba, catarse de um estilo suave e tocante. O jogo de signos e significados dão um show aos admiradores da verdadeira poética, hoje em dia elaborada por poucos. Parabéns!

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  9. Gostei imensamente do título, gostei imensamente de tudo, do ritmo, das imagens usadas, da construção, da criatividade. Meus aplausos e de pé!

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  10. Olha só o Fil fazendo poesia! (estou morrendo de inveja)
    Parabéns meu querido amigo.

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  11. Elisa Ribeiro disse:

    Um poema engenhoso que brinca com o significado das palavras. Imagens ricas que desconstroem significados, como “mágoa cintilante”, a sonoridade do poema e a elegância de alguns versos, especialmente a última estrofe, me agradaram bastante. Beijo grande, Fil.

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  12. Fernando Cyrino. disse:

    um jeito sutil e meio transversal de tratar da morte. Metafórica, ou mesmo a danada da fatal. Ou será que me engano aqui perdido entre esse mal me quer e esse bem me quer? Ficou bacana esse seu poema. parabéns.

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  13. Sabrina Dalbelo disse:

    Fil, o teu poema tem uma métrica ótima. A leitura flui. Gosto – ainda que não domine – das várias referências de que tu te utilizou.
    Um poema vívido, que me passa todo o cuidado que tu teve em escolher palavra por palavra. Parabéns.

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  14. Eduardo Monteiro disse:

    Poxa, você conseguiu dar sentimentos e detalhes para coisas que jamais pensaria que pudesse existir. A mágoa lembra choro, mas tu a fez cintilante. E a cigarra, ela não canta, ela chora. Parabéns, adorei o que vi aqui.

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  15. Começou e acabou triste e bonito! “Choro de cigarra” e “Minha morte em céu aberto”.
    Agora, nada mais triste e angustiante que um caminho de árvores, com suas copas fechando, ao escurecer de um fim de tarde, com a sinfonia de dezenas e centenas de cigarras. “Canto todas minhas dores”.
    Parabéns! Viajei também, no ritmo e na colocação das palavras!

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  16. angst447 disse:

    Já comecei gostando do título que tanto pode significar nós (a gente) ou nós (amarras). E esta ambiguidade se transforma em pares feito de quase opostos: o choro (tristeza)/ a cigarra (canto), o xote (dança)/ a mágoa. O poema é triste,mas ao mesmo tempo passa uma ideia de alívio, de liberdade. Peito aberto à morte como uma entrega de amor. Parabéns, Fil.

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  17. Olá Fil. Só o título quase bastava. Mas isto antes de ler o resto, tudo encaixa. Nos nós de nós em nós, você faz malabarismo com as palavras, casando conceitos velhos com conteúdos renovados e anteriormente antagónicos. As palavras são plásticas, adquirindo a forma que dentro se lhes coloca. Você fez um exercício perfeito de modelagem semântica. E aqui encontramos o neologismo, não na palavra, mas no significado. O seu todo resulta sonoro, pois há movimento e som inusitados. Muito bem. Parabéns. Um abraço.

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  18. Oi, Fil Felix!
    Que profundo, belo e ritmado hein?
    Seu poema propõe, leva, traga e entrega uma reflexão sobre esse nosso viver, o existir, sobreviver à dor, necessária e libertadora – “feito nós”, nós, que somos, e nós, que atam e desatam ao sabor dos mais diversos ritmos.
    Seu poema é 10!

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  19. Bem construído, é um rico poema. Achei um pouco repetitiva cada linha, mas deve ser para amarrar bem esse nó.

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  20. Helenice disse:

    Efeitos da natureza descritos como ritmos musicais fico interessante.

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  21. marcilenecardoso2000 disse:

    É interessante, admirável essa capacidade do poeta em transformar o canto da cigarra que nos leva a pensar em coisas alegres, festivas, em choro. E de forma brilhante.

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